terça-feira, 19 de abril de 2011

Você é bem atendido nas Lojas?

Compartilhe3 Pesquisa mostra que as classes C, D e E se sentem destratadas por vendedores, o que leva a uma falta de confiança para fazer compras. Você já passou por isso? Compartilhe sua experiência
Você se sente ignorado pelos vendedores? As classes C, D e E tambémSe você se sente mal atendido nas redes e lojas de varejo e pertence às classes C, D e E, não está sozinho. Um levantamento feito pelo Plano CDE, uma consultoria especializada nessas classes sociais, mostrou que até 25% desses consumidores admitem falta de confiança diante de uma compra. A pesquisa considerou como classe C pessoas de famílias com renda de R$ 1.214 a R$ 3.033 (quatro a 10 salários mínimos); classe D, com renda de R$ 607 a R$ 1.213 (dois a quatro), e, E, de R$ 0 a R$ 606 (zero a dois).

Associada à falta de autoestima, os clientes acreditam ser mal recebidos por pertencerem a um grupo de baixa renda – percepção de 50% dos clientes da classe C, 51%, da D, e 56%, da E. Gilsa de Andrade Campos, que trabalha em uma lavanderia e tem 52 anos, diz que passou por situações que ilustram a pesquisa. "As pessoas reagem como se você não tivesse dinheiro para comprar naquela loja. Há lugares em que você nem consegue entrar", afirma. Em algumas lojas, conta, as vendedoras só mostram os produtos mais baratos. Certa vez, não conseguiu efetuar uma compra porque o vendedor não acreditou que ela poderia pagar. Teve que voltar com a filha. "Eu fiz questão de comprar lá para mostrar que eu tinha dinheiro. Naquela vez eu me senti lá embaixo", afirma.

»O brasileiro só quer saber de consumoIsso também aconteceu com a diarista Sonia Aparecida Gonçalves, de 31 anos. Ela precisava fazer uma compra grande, que o marido pagaria à vista – guarda-roupa, cama de casal com colchão, estante para a sala, duas camas de solteiro com colchão e armário de cozinha. E o vendedor só mostrava o que estava "mais em conta", não acreditou que ela, ainda sozinha na loja, teria como pagar tudo aquilo. "Quando meu marido chegou para pagar, o vendedor começou a me mostrar produtos de melhor qualidade, mais caros", diz. "Foi um constrangimento terrível. Depois que estava tudo separado eu ainda comprei mais coisa, para mostrar que ele não pode tratar a gente assim", afirma. Com a decisão da compra, Sonia se sentiu vingada – o vendedor jamais havia feito uma venda tão robusta à vista. "Mesmo se eu quisesse dividir em 24 vezes ele tinha que vender bem. Se ele quer ser vendedor, tem que tratar bem o cliente", diz. Ela afirma se sentiu constrangida por "estar passando por mentirosa".

Esse tipo atendimento, desconfiado, do varejo deve prestar atenção aos dados a seguir. Cerca de 19 milhões de brasileiros migraram para a classe C em 2010, que passou a ser maior do país, com mais de 101 milhões de pessoas – 53% da população. A informação é de uma pesquisa encomendada pela Cetelem BGN à IpsosPublicAffairs, que também mostrou que há 47,9 milhões de brasileiros nas classes DE (25%) e 42,2 milhões nas AB (21%). Ou seja, 74% da população estão concentradas nas classes C, D e E, que começam a correr para as lojas, mas sentem receio de comprar porque já sofreram episódios de discriminação.

A também diarista Rosaelina Silveira da Silva, de 50 anos, estava com uma sacola pesada e grande nas costas, além da bolsa, quando entrou em um supermercado popular de São Paulo. Queria comprar apenas um produto e sair rapidamente, uma vez que já estava perto da hora de o ônibus passar. A diarista passou direto pelo guarda-volumes e uma funcionária, do outro lado do supermercado, gritou alto e de forma agressiva para que ela usasse o guarda-volume. "Fiquei muito sem graca, todo mundo ficou olhando", afirma. Mas ela insistiu e entrou. A funcionária arrancou a sacola e não a deixou entrar com ela. "Fiquei chateada e ofendida. Achei a atitude dela errada. Foi uma agressividade desnecessária", afirma Rosaelina. Quando reclamou do tom grosseiro, a funcionária respondeu que aquela era sua função. "Que lei é essa que deixa o funcionário fazer isso com o cliente?", questiona a diarista, que nunca mais retornou ao supermercado.

A cozinheira Virgínia Carla Belchior, de 37 anos, estava dentro de uma loja e perguntou o preço de uma peça à vendedora, que não respondeu. Virgínia questionou se ela não queria atendê-la porque era pobre. "Não, não, senhora, depois eu lhe atendo", respondeu a vendedora, que deu atenção a várias clientes e não falou mais com a cozinheira. "Minha irmã falou que, se a gente fosse atendida, ela compraria uma blusa." Ficou sem a roupa. "Quando a gente chega a lojas, se não estiver bem trajada, bem arrumada, realmente ninguém liga para você e ainda te tratam mal", afirma. "Eles olham de lado, parece que você é bandida", diz. Ela também foi destratada em uma grande rede de varejo. Virgínia precisava cancelar um cartão, ficou na fila, mas a funcionária não resolvia seu problema. "Passei o maior constrangimento, até chorei na fila. A vendedora me tratou mal." Ela teve que chamar o gerente. "Me ignoraram", afirma.

Alguns dados da pesquisa feita pela consultoria Plano CDE:

Falta de confiança para comprar
(percepção)
Na classe A: 7%
Na classe B: 13%
Na classe C+: 11%
Na classe C-: 20%
Na classe D: 21%
Na classe E: 25%

Já foi mal atendido
(percepção)
Na classe A: 40%
Na classe B: 42%
Na classe C+: 46%
Na classe C-: 50%
Na classe D: 51%
Na classe E: 56%

fonte: http://www.epoca.com.br/